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16 de maio de 2012

O uso do microchip na sociedade

Dispositivo eletrônico revoluciona a tecnologia e as relações sociais A evolução tecnológica de dispositivos eletrônicos somente tornou-se possível diante das invenções humanas que possibilitaram maior velocidade no processamento das informações e geração de conhecimento. A história do microchip, por exemplo, nasceu da necessidade de um componente eletrônico que ocupasse menos espaço e consumisse menos energia, mas ao mesmo tempo amplificasse sinais elétricos com qualidade e rapidez. Linha do tempo e história Na década de 1950, usavam-se grandes válvulas para a construção de aparelhos de rádio e televisão. De seis a 30 delas eram utilizadas, deixando os aparelhos com um volume extenso e gerando muito calor. Essas válvulas queimavam com muita facilidade e precisavam ser trocadas com frequência. A necessidade de substituição do sistema levou à criação do transistor, dispositivo pequeno, que poderia ser agrupado em grande número, e de baixo consumo de energia. Todo esse esforço para reduzir de tamanho os componentes eletrônicos se dava por causa das novas necessidades da economia do pós-guerra (II Guerra Mundial). Era a Guerra Fria. A disputa entre Estados Unidos e União Soviética, que gerava uma corrida armamentista, já não era mais pela liderança bélica de uma nação, mas pelo conhecimento, avanço tecnológico e nuclear, e pela expansão espacial, mas, dessa vez, sem o conflito armado direto. Aliado a um circuito eletrônico integrado, o transistor deu origem ao microchip. Na década de 1970, já se pensava em fazer comutação de sinal telefônico (interligar dois terminais por meio de um sistema automático). A primeira utilização do chip foi para essa finalidade. A expectativa era somente em cima da função tecnológica e de desenvolvimentos de sistemas, e isso valeu até mais ou menos 1990. Ainda na década de 1970 começou a circular o primeiro microprocessador (responsável pela execução do sistema de um computador), apenas um experimento, que não chegou a ser usado em larga escala. A teoria, então, passou a ser usada na prática, na década de 1990, com a popularização e expansão do uso do computador pessoal e da internet (rede mundial de comunicação). Outros elementos como satélites, elevadores, carros, aviões, celulares, equipamentos médicos e robôs também possuem microchips. O professor João Antônio Zuffo, engenheiro da Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), em 1963, foi quem encabeçou a montagem do primeiro circuito integrado do Brasil e da América Latina (1971), ainda quando a profissão era uma área bem restrita. Na opinião de Zuffo, as coisas mudaram e é necessário um conhecimento humano muito grande, de maneira que ajude o profissional a viver a Era da Informação, como ele denomina o mundo interconectado de hoje. Ele falou ao Arca Universal sobre a função do microchip: O avanço da tecnologia mudará o comportamento social? Sim. Acredito que vai mudar totalmente a sociedade. Daqui a uns 30 anos, teremos uma sociedade super interconectada, e mudará a forma como as pessoas enxergam as coisas. O futuro é uma sociedade bicamada: a população socializada em um nível de vida muito alto – que já não daria muita importância ao dinheiro – e uma elite financeira – que de certa forma teria o desprezo da maior parte da sociedade, vivendo em um mundo à parte. O importante seria o prestígio social e as comunicações de forma generalizada, par a par ou em redes sociais. Qual o papel do microchip nesse processo? Na medida em que você tem microchips que comportam terabytes (mil gigabytes), qualquer pessoa poderá ter um computador em sua casa que arquive informação do porte de uma biblioteca inteira. Existe uma preocupação quanto ao futuro referente à privacidade. Em qualquer lugar que você vá, será identificado por câmeras que leem a face ou a retina, por exemplo. No futuro, você poderá realizar qualquer transação pelo computador apenas com o uso da biometria (impressão digital). Isso afeta a privacidade e não se terá mais a vida íntima como se tem hoje. Mas, por outro lado, poderá uniformizar a sociedade em termos de eliminar completamente a miséria, pois ela terá uma qualidade de vida nivelada, e o dinheiro será aspecto secundário. É possível a implantação de microchips debaixo da pele? Sim, é possível. E, na prática, acontece por segurança. Existe um tipo de chip chamado Digital Angel (Anjo Digital). Ele é um dispositivo de 2x2 milímetros de área que se implanta na pele. Por exemplo, se um executivo for sequestrado, ele tem um código (qualquer gesto ou palavra) que ativa a função desse microchip. Então, é possível saber onde ele está naquele momento, através de sinal transmitido via GPS ou telefonia celular. É um mecanismo de alta tecnologia. Quais são os projetos semelhantes que temos no País? No nosso laboratório na USP (Sistemas Integráveis da Poli) elaboramos detectores capazes de medir o cansaço muscular. É possível a aplicação do dispositivo em roupas íntimas e acessórios para monitorar a saúde da pessoa. Pensamos em desenvolver também uma série de roupas inteligentes, com chips quase imperceptíveis, para medir a temperatura da pessoa, seu batimento cardíaco e oximetria (quantidade de oxigênio no sangue). Pretendemos monitorar crianças que fizeram tratamento quimioterápico para verificar temperatura ou identificar uma infecção. São muitas aplicações possíveis com o intuito de melhorar a qualidade de vida e o tratamento da saúde das pessoas. Vai chegar uma hora em que trocaremos tudo por um chip só? As possibilidades de avanço impactam e a influência social disso é muito importante. Os cartões de créditos e documentos de identificação já têm chip. A tecnologia de hoje está muito mais avançada. Um tênis de uma marca famosa já possui um chip que alerta, por sistema bluetooth (rede de comunicação sem fio) se a pessoa não está pisando corretamente. Desde o primeiro microprocessador, o chip foi ampliando sua complexidade. Hoje, a internet continua dobrando o número de componentes a todo ano. Por volta do ano 2020 já se prevê chegar a 1 trilhão de componentes em um único microchip. O que pode acontecer depois? Depois disso, vamos chegar ao limite físico, porém, vai dar para reduzir mais por meio da microeletrônica, a nanotecnologia (pesquisa e produção em escala atômica). Isso poderá ser perigoso, porque existe uma série de coisas que as pessoas não entendem bem, mas estão mexendo. Por exemplo, as máquinas moleculares, biológicas e as máquinas que não param mais de se produzir, chamadas de reaplicáveis. O Brasil acompanha toda essa evolução? Em termos acadêmicos sim, nós conseguimos acompanhar. O problema do nosso país é não termos uma indústria eletrônica com a capacidade de fundir os microchips. Nós temos toda a competência de projetos. Projetamos modelos tal qual no exterior. Mas o direito autoral é de uma empresa de fora que o encomendou. Como se fabrica um microchip? As lâminas são de silício, retiradas de um cristal Quartzo, um dos materiais mais comuns na face da Terra, só que na areia do mar ele é muito contaminado e fica muito difícil de purificar. O quartzo é moído, fundido e puxado pela ponta do cristal de silício em forma de cilindro. Depois é cortado em lâminas, onde, uma por uma, as informações são gravadas por processo fotográfico, corroído com ácido e exposto. As lâminas de microchips são cortadas com diamantes em quadrados que serão utilizados para compor os sistemas integrados. Geralmente, alinha-se na ordem de vinte e tantas máscaras para compor um circuito integrado complexo. Hoje, elas têm 30 centímetros de diâmetro.